O erro do domingo: quem trocou os tempos e as leis?

 “E cuidará em mudar os tempos e a Torah...” — Daniyyel (Daniel) 7:25

Entre as muitas alterações que marcaram a história da fé bíblica, nenhuma foi tão profunda — nem tão profetizada — quanto a troca do Shabbat (Sábado) pelo domingo. O quarto mandamento, estabelecido por יהוה (YHWH) no Sinai, foi progressivamente neutralizado, reinterpretado ou simplesmente abandonado. Como isso aconteceu? Quem autorizou a troca? E por quê?

Esta investigação parte de um verso pouco explorado, mas de profundo alcance: Daniel 7:25. Nele, o profeta revela uma entidade que “intentará mudar os tempos e a Torah”. A mudança do dia sagrado seria, então, uma parte desse plano maior. Ao seguir os rastros dessa transformação, reencontramos uma batalha milenar por memória, identidade e aliança.

Leia também:

O Shabbat e sua origem textual

A primeira menção: Bereshit (Gênesis) 2:2-3

“E cessou Elohim, no sétimo dia, de toda a Sua obra que fizera, e descansou no sétimo dia...”
Gn 2:2-3 | LXX: κατέπαυσεν ὁ θεὸς ἐν ἡμέρᾳ τῇ ἑβδόμῃ

A raiz do termo Shabbat (שַׁבָּת) vem do verbo shavat (שָׁבַת)cessar, interromper – Strong’s H7673 | Verbo qal. O substantivo Shabbat – Strong’s H7676 | masc. sing. – designa o dia consagrado ao cessar divino.

Este dia é codificado como memorial perpétuo:

“Lembra-te do dia do Shabbat, para o santificar.”
Shemot (Êxodo) 20:8

A Torah não apresenta qualquer mandamento que transfira esse dia para outro. Ao contrário: profetas como Yeshayahu (Isaías) associam bênçãos específicas ao guardar do Shabbat:

“Bem-aventurado o homem... que guarda o Shabbat, para não o profanar.”
Is 56:2

Nos Escritos Apostólicos – A prática do Shabbat continua

Yeshua (ישוע), seus discípulos e toda a Qahal (assembleia) primitiva seguem guardando o Shabbat, mesmo após a ressurreição:

“Conforme o costume, foi ao lugar de reunião no dia de Shabbat.”
Lc 4:16

“Shaul (Paulo)... discutia nas sinagogas todos os Shabbats, persuadindo judeus e gregos.”
At 18:4

A expressão “primeiro dia da semana” (grego: μία τῶν σαββάτων, literalmente: “um dos Shabbats”) em textos como Atos 20:7 é interpretada de forma questionável — abordaremos isso na Parte 2.

A transição do Shabbat ao domingo

🔍 Intervenções imperiais: o Édito de Constantino

O imperador romano Constantino I, em 321 d.C., emite o primeiro decreto civil que institui o domingo como “dia venerável do Sol”:

“Que todos os juízes, habitantes das cidades e todos os ofícios descansem no venerável dia do Sol...”
Codex Justinianus 3.12.2

Esse decreto não cita Yeshua, nem o “ressuscitado”. É uma fusão entre culto solar romano e tentativa de unificar um império fragmentado. A seguir, os concílios eclesiásticos consolidam a mudança:

⚠️ Concílio de Laodiceia (c. 363–364 d.C.)

“Cristãos não devem judaizar, descansando no sábado, mas devem trabalhar nesse dia e honrar o domingo...”
Cânon 29

Este é o primeiro registro oficial da proibição do Shabbat e imposição do domingo como substituto. A autoridade do império substitui a autoridade da Torah.

O impacto da mudança

A alteração do Shabbat para o domingo:

  1. Rompe com o memorial da criação (Gn 2:2-3)

  2. Enfraquece a identidade do povo da aliança

  3. Oculta o sinal da santificação (Ez 20:12)

  4. Confunde o eixo profético das festas e tempos de יהוה (Lv 23)

Mais do que um erro de calendário, é um atentado contra o ritmo sagrado estabelecido por Elohim. A substituição foi promovida por estruturas imperiais, não pela revelação das Escrituras.

“Mudar os tempos e a Torah”

“E falará palavras contra o Altíssimo, e oprimirá os santos...
e cuidará em mudar os tempos e a Torah (וְיָשֵׁנִי זִמְנִין וְדָת)”
Dn 7:25

📘 O termo “tempos” = zimnin (זִמְנִין) – Aramaico | plural de “tempo marcado”
📘 O termo “Torah” = dat (דָּת) – Aramaico | norma, decreto legal

A profecia não é simbólica: ela descreve com precisão o que a história eclesiástica concretizou. A mudança do dia sagrado é parte de um processo maior de usurpação dos ritmos de יהוה.

O retorno ao tempo de Elohim

A restauração do Shabbat não é um “legalismo sabático”, mas um retorno à aliança original. Não se trata de judaizar, mas de honrar o ritmo estabelecido por יהוה desde a criação. Os seguidores de Yeshua são chamados a se alinhar com os tempos do Altíssimo — não com os decretos imperiais.

“Bem-aventurado o homem... que se apega à Minha aliança.”
Is 56:2-6


Bloco Técnico

TermoTraduçãoStrong’sMorfologiaReferência
ShabbatDescanso, cessarH7676Subst. masc. sing.Gn 2:2-3
ShavatCessouH7673Verbo qalGn 2:2
ZimninTempos marcadosAramaicoSubst. masc. pl.Dn 7:25
DatLei / DecretoAramaicoSubst. fem. sing.Dn 7:25
Mia tōn sabbatōnUm dos ShabbatsG3391, G4521Num. fem. + pl. masc.At 20:7

Comentários