A Bíblia Sagrada não é um livro como os outros. Ela também não é uma coleção aleatória de textos antigos reunidos por interesses imperiais, como repetem críticas modernas. A Bíblia é, essencialmente, um testemunho transgeracional da aliança entre יהוה (YHWH) e a humanidade — primeiro com Israel, depois com todas as nações.
Contudo, séculos de traduções, seleções políticas e disputas doutrinárias obscureceram sua origem, seu propósito e sua preservação. O erro histórico não foi a sua existência, mas a forma como seu conteúdo foi tratado: ora idolatrado sem discernimento, ora desprezado sem investigação.
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Base textual
O termo "Bíblia" vem do grego ta biblia (τὰ βιβλία), que significa "os livros". O uso no plural já aponta para sua estrutura multifásica: Torah (Instrução), Nevi’im (Profetas), Ketuvim (Escritos) — o Tanakh hebraico — e, mais tarde, os Escritos dos emissários (shlichim) de Yeshua.
Em hebraico, o termo para a Escritura é Ketuvim Qedoshim (Escritos Sagrados). Não há, portanto, uma “Bíblia” única, mas um conjunto de rolos preservados ao longo de mais de 1.300 anos por escribas, profetas, reis e emissários.
Origem da revelação: antes da Bíblia
Antes da escrita, a voz. Antes da letra, o sopro. A comunicação de YHWH com a humanidade antecede qualquer compilação. O livro do Gênesis registra que o Criador falava diretamente com os patriarcas: "E disse יהוה a Avram..." (Gn 12:1). Não havia Bíblia — havia encontro.
Moshe (Moisés) recebeu instruções escritas "com o dedo de Elohim" (Êx 31:18). As Tábuas de Pedra foram o primeiro rascunho divino, não da Bíblia, mas da Aliança. O conteúdo era específico: instruções morais e de justiça. O que chamamos hoje de Bíblia começou a se formar a partir do registro dessas falas.
Escrita e preservação
Quem escreveu a Bíblia? Profetas, sacerdotes, reis, escribas e discípulos — todos sob o peso da aliança. A autoria da Bíblia é coletiva, mas não caótica. Cada rolo foi escrito com intenção, transmitido com zelo e preservado com temor.
O texto hebraico foi guardado pela tradição massorética (séc. VI–X d.C.), mas manuscritos anteriores revelam variantes importantes: os Rolos do Mar Morto (Qumran), a Septuaginta (LXX grega), a Peshitta (aramaica), o Targum (paráfrases antigas). Todas essas testemunham a fidelidade do conteúdo central — apesar das formas variadas.
Formatação e cânon: é suficiente?
A formatação da Bíblia em capítulos e versículos é medieval (séc. XIII–XVI) e didática, não inspirada. Já o cânon — a lista dos livros aceitos — varia entre judeus, católicos, ortodoxos e protestantes. Isso mostra que a autoridade está menos na edição e mais na revelação preservada.
A Bíblia como temos hoje é suficiente? Para conduzir à salvação, sim. Para entender todo o conselho de YHWH, exige comparação com manuscritos, léxicos e contextos antigos.
Os textos fora do cânon são perigosos?
Ler textos apócrifos ou extracanônicos não é, por si só, perigoso. O risco está em tratá-los como igualmente inspirados sem critério. Muitos desses escritos refletem devoção legítima, mas também contêm inserções tardias, mitologias sincréticas ou agendas políticas.
A tradição hebraica sempre distinguiu o que era qadosh (sagrado) do que era chullin (comum). A leitura crítica e orientada pode enriquecer, mas nunca substituir a fonte.
A Bíblia perde valor com o tempo?
Ao contrário: quanto mais tempo passa, mais sua relevância se confirma. As descobertas arqueológicas, os estudos intertextuais e a convergência de manuscritos validam a preservação das Escrituras.
Yeshua declarou: "Passará o céu e a terra, mas as minhas palavras jamais passarão" (Mt 24:35). A Bíblia não é uma relíquia: é uma convocação permanente.
Evidência negligenciada
Poucos percebem que a Bíblia não começou como um livro, mas como um chamado. A primeira instrução escrita foi entregue em pedra, mas a primeira revelação foi entregue em fé. Negligencia-se o fato de que a Bíblia não foi escrita para ser adorada, mas obedecida. Não foi feita para ficar fechada em vitrines, mas aberta no coração das nações.
Retorno à aliança
Voltar à Bíblia é voltar à aliança. Mas não à versão folclórica ou adulterada — e sim ao texto restaurado, à voz profética, ao propósito original.
A pergunta não é apenas o que é a Bíblia, mas quem a está escutando? Porque a fé — diz Shaul (Paulo) — vem pelo ouvir. E ouvir, pela palavra de Mashiach (Rm 10:17).
A leitura é um ato profético. A restauração começa quando voltamos a escutar o que está escrito desde o início.
Fontes, glossário e morfologia
| Termo | Tradução | Strong’s | Morfologia | Referência |
|---|---|---|---|---|
| Torah | Instrução | H8451 | Subst. fem. sing. | Gn 26:5 |
| Nevi’im | Profetas | – | Masc. plural | Js 1:7–8 |
| Ketuvim | Escritos | – | Masc. plural | Sl 119 |
| Qadosh | Santo/Sagrado | H6944 | Adj. masc./fem. | Lv 11:44 |
| Mashiach | Ungido | H4899 | Particípio qal masc. | Sl 2:2 |
| Shlichim | Enviados/Emissários | – | Masc. plural | Jo 20:21 |
| Apócrifo | Escondido/oculto | – | Subst. masc. sing. | 2Esd 14:45 (LXX) |

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