O Texto Massorético (TM) é a versão hebraica padronizada das Escrituras que se consolidou entre os séculos VII e X d.C., pelas mãos dos massoretas — sábios judeus responsáveis por preservar e vocalizar os manuscritos bíblicos. Copiado com rigor na região da Galileia, Babilônia e especialmente em Tiberíades, esse corpo textual tornou-se a referência oficial do Judaísmo rabínico e, por consequência, de boa parte das traduções modernas do Antigo Testamento.
Mas o que realmente é o TM? Ele é fiel ao texto original? E quais marcas deixou na história da crítica textual bíblica?
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O que é o Texto Massorético
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Definição: É o texto hebraico da Tanakh (Torah, Nevi’im, Ketuvim), fixado e transmitido com sinais vocálicos e notas marginais pelos massoretas.
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Nome: Vem de masorah (“tradição, transmissão”), indicando o esforço em preservar a pronúncia e a contagem precisa de letras e palavras.
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Cronologia: Os códices mais antigos que preservam o TM em forma quase completa são:
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Códice de Aleppo (séc. X, Tiberíades, atribuído à família ben Asher).
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Códice de Leningrado B19A (ano 1008/1009 d.C.), o manuscrito hebraico completo mais antigo que chegou até nós.
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Método dos Massoretas
Os massoretas criaram um sistema de:
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Pontuação vocálica (niqqud) para registrar a pronúncia do hebraico bíblico.
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Marcas de entonação (te’amim) que também servem como sinais musicais para leitura litúrgica.
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Notas massoréticas nas margens dos códices, listando ocorrências raras, variações ortográficas e contagem minuciosa de letras e palavras — um tipo de “segurança criptográfica” da Antiguidade.
Exemplo: eles anotavam que a Torah contém 304.805 letras. Se a cópia não correspondesse exatamente, era descartada.
Comparação com outras tradições
O TM não é a única tradição textual. Ele convive e às vezes diverge de outras linhas de transmissão:
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Septuaginta (LXX, séc. III-I a.C.): tradução grega do texto hebraico mais antigo, com diferenças significativas em livros como Jeremias e Samuel.
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Pentateuco Samaritano: preserva variantes próprias, às vezes mais antigas que o TM.
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Manuscritos do Mar Morto (DSS, séc. III a.C.–I d.C.): revelam que, antes do TM se consolidar, havia pluralidade textual em circulação. Alguns manuscritos são proto-massoréticos, outros se alinham à LXX ou ao texto samaritano.
Classificação acadêmica:
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A – Convergência: O TM preserva com exatidão boa parte da tradição hebraica.
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B – Parcial: Em alguns livros (como Jeremias), o TM é mais curto que a LXX, revelando edições posteriores.
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C – Interpretativo: Decisões massoréticas de vocalização às vezes alteram o entendimento de passagens.
Impacto histórico
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Na tradição judaica: O TM tornou-se a base única da Bíblia Hebraica usada até hoje em sinagogas.
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Na Reforma Protestante: As traduções de Lutero e de versões como a King James se apoiaram no TM, via edições impressas (Bíblia Hebraica de Bomberg, 1524–25).
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Na crítica textual moderna: A edição padrão acadêmica Bíblia Hebraica Stuttgartensia (BHS) e a recente Bíblia Hebraica Quinta (BHQ) se baseiam no Códice de Leningrado, com aparato crítico comparando variantes.
Origem da padronização
A padronização massorética ocorreu em um contexto de diáspora e necessidade de uniformidade:
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A destruição do Templo (70 d.C.) e a consolidação do Judaísmo rabínico exigiram um texto estável.
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Entre os séculos VII e X, famílias de escribas como ben Asher e ben Naftali disputaram a autoridade textual. O padrão ben Asher prevaleceu.
Glossário
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Masorah | Tradição | Strong’s ⚠️ | Substantivo hebraico | 2Reis 17:37 (uso de shamar, preservar).
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Niqqud | Pontos vocálicos | — | Sistema criado séc. VIII–X d.C. | aplicado em toda Tanakh.
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Te’amim | Acentos, entonações | — | Marcas musicais/gramaticais | transmitidos pelos massoretas.

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